A Maria dos Anjos é a emprega doméstica dos sonhos dos meus pais.
A Maria dos Anjos arruma, limpa, aspira, cozinha, passa a ferro e tudo isto sem se queixar.
A Maria dos Anjos não se importa com as pilhas de roupa usada em cima do sofá, que se vai acumulando ao longo da semana por não haver paciência de a arrumar, e mete-as a lavar.
A Maria dos Anjos não lava a roupa para a deixar estendida durante dias ou semanas, até ficar tão tesa e poeirenta que tem que ser novamente lavada.
A Maria dos Anjos limpa o pó todos os dias, de forma a que os móveis castanho escuros em wengue não tenham uma camada enorme em cima.
A Maria dos Anjos sabe o que os meus pais querem comer ao pequeno almoço e prepara-o para eles não se atrasarem para o trabalho.
A Maria dos Anjos não deixa que o pão ganhe bolor por estar há muitos dias na caixa do pão (que convenhamos também não é de muito boa qualidade porque já está toda a desfazer-se e não protege nada).
A Maria dos Anjos tem uma força hercúlea que lhe permite afastar a cama pesadíssima dos meus pais para aspirar por baixo e não deixar formar um tapete farfalhudo de cotão.
A Maria dos Anjos não se importa de andar de rabo para cima a apanhar os milhares de cabelos que a minha mãe espalha diariamente pelo chão.
A Maria dos Anjos, apesar dos poucos armários existentes, sabe sempre onde arranjar espaço de arrumação e não deixa nada fora de sítio.
A Maria dos Anjos sabe sempre o que tem prioridade para ser passado a ferro, evitando minutos preciosos perdidos de manhã em busca de uma peça de roupa que se pensava que poderia levar e afinal está toda amarrotada.
A Maria dos Anjos não deixa que os bichinhos de prata (aqueles nojentos cinzentos e com antenas) entrem em casa.
A Maria dos Anjos recebe menos que 7 euros à hora, não se mete onde não é chamada e é sempre educada e bem disposta.
A Maria dos Anjos deve andar algures por aí… Mas onde?