Há a fabulosa teoria de que as grávidas não devem enervar-se nem entrar em stress, porque isso passa para o bebé. Aparentemente é verdade, já que a minha mãe cada vez fervilha com mais ódio e desejos de assassinato, o que eu apoio e sinto também.
E se são principalmente os médicos que incentivam à calma e serenidade, porque motivo foi uma médica a razão da quase explosão da minha mãe, na passada quarta-feira?
Primeiro, não se percebe o porquê de ter que se ir perder tempo ao centro de saúde pedir uma credencial para fazer exames e análises obrigatórias aquando da gravidez. Se a grávida pertence ao SNS, se paga os seus impostos, e mais importante, se tem já um papel que indica que está isenta de todas as taxas moderadoras, qual a razão da porcaria da credencial? É só porque é divertido ir perder tempo e gastar mais papel, incentivando a maravilhosa burocracia?
Depois, a consulta da minha mãe estava marcada para as 12h, pelo que ela teve que sair a correr do trabalho às 11h (sim, ela trabalha no fim do mundo), para às 14.30h, ainda sem ter almoçado, lhe dizem que ainda tem mais duas pessoas à frente. Foi então almoçar rapidamente uma sopa e uma sandes de panado (uau, que refeição nutritiva e satisfatória para mim) e quando voltou ao centro de saúde, perguntou a um recepcionista com quem ainda não tinha falado se já a tinham chamado, ao que ele respondeu que não. Mas calma, a conversa foi mesmo assim, ela não mencionou como se chamava e o homenzinho, que nem sequer parava quieto na sala de espera, logo não poderia saber se a tinham chamado ou não, respondeu logo que a médica não tinha chamado. E não, também não era o caso de a médica não ter chamado ninguém, já que as duas pessoas à frente da minha mãe já lá não estavam.
Finalmente a minha mãe foi chamada, quase às 15h. Ao dar a requisição dos exames passados pela médica particular (dessa nós gostamos muito), a médica do centro de saúde começou logo a dizer que não passava essas análises porque eram muito caras e era só para gastar dinheiro. São caras para quem? Para a minha mãe que agora vai ter que desembolsar cento e tal euros por cada análise que esta gaja não passou? Portanto, logo aí começou muito mal, já que o propósito da ida ao fabuloso centro de saúde eram essas credenciais.
Depois a médica decide pesar a minha mãe numa balança de há dois séculos, daquelas com pesos que se mexem mais para um lado ou outro até equilibrar. Oh, espanto, 59,5kg! A minha mãe ficou perplexa e pensou que afinal a sandes de panado devia ser de elefante, já que ela há uma semana e pouco pesava 55kg. A médica marcou esse peso estúpido no livrinho da grávida (não se preocupem que a minha mãe já riscou essa anormalidade e pôs o peso real dela, que são 56kg, pesados depois de jantar nesse mesmo dia).
Outra maravilha foi medir a tensão da minha mãe, que costuma ser 10/6, depois dela ter almoçado, bebido café, e estar a espumar de ódio pelo tempo que esperou para depois sair de lá sem as credenciais. Estava com 13/6, olha mais uma surpresa!
Outras pérolas dessa consulta foram dizer que a ecografia que a minha mãe tem marcada para dia 19 (quando já faço 21 semanas, para as pessoas que se entendem a falar em semanas) era demasiado precoce, deveria ser só às 24 semanas (perdão? Em que planeta?), que a partir de agora só a atenderia às 15h (sim, para quem trabalha no fim do mundo e tem que compensar horas, dá um jeitão) e a cerejinha no topo do bolo: “Está com um ar abatido, tem que descansar mais!”. Ora vejamos… Mais de três horas à espera, para não ter as credenciais de que precisava, chamarem-lhe mamute obeso, e ainda esperava que a minha mãe estivesse fresca, fofa e bem disposta?!
Ufa, tinha mesmo que desabafar. Esta vida já é muito stressante aqui dentro da barriga, imagino quando sair aí para fora…